sábado, 7 de abril de 2012


4a Aula
TEMA : Mitos Comparados

1) Texto base: No princípio, criou Deus os céus e a terra.
                         Gênesis 1:1
       Gênesis 6

2) Objetivo: Apresentar de maneira didática algumas ponderações acerca das narrativas mais antigas sobre a criação e sobre o dilúvio.

3) Mitos da Criação

Ao contrário da narrativa bíblica da criação, as histórias vindas da Mesopotâmia, Egito e da região Siro-Palestina vão muito além do que simplesmente explicar como o mundo físico veio a existência. Tais mitos geralmente elevavam uma divindade particular de alguma vila ou tribo acima de uma outra divindade de tribo concorrente. Havia por detrás dessa prática a intenção política de valorizar o próprio condado através da valorização da deidade do condado.

4) Egito

Por exemplo, o mito egípcio explica que a “Ilha da Criação” surgiu de um oceano primevo e que um deus específico criou todas as coisas daquela localização. O problema era que cada tribo tomava para si essa localização para valorizar a divindade que eles adoravam.

Em Memphis era o deus Ptah. Em Hermópolis era Thoth. Em Heliópolis era Re-Atum, onde uma pedra sagrada era tida como o lugar onde Re-Atum, na forma de um pássaro Bennu, iniciou o processo criador.

Em tais relatos da criação, os mitos incluem surgimento expontâneos de deuses, reprodução sexuada entre deuses e a deidificação da natureza, como elevar o sol e a lua ao nível de deidades.
Os mitos da criação geralmente focavam na geografia ou outros elementos únicos da região da tribo associada com o deus criador. Alguns mitos egípcios antigos, por exemplo, davam atenção especial a criação do Nilo.

5) Babilônia

Algumas outras dessas histórias relatam batalhas entre deuses e monstros das eras primevas, imersos em um caos aquático, onde uma dessas deidades surgiriam vencedoras em supremacia. Outros relatos afirmam que a criação surge da batalha entre um deus e um monstro primitivo, que quando derrotado teve seu corpo dividido em duas partes por esse deus, surgindo daí céu e terra, mar e céu. O mito babilônico de Enuma Elish descreve que o deus Marduks derrotou Tiamat, uma deusa-monstro marinho. Depois da terrível batalha, Marduk cortou o seu corpo ao meio, como quem corta um peixe para ser secado ao sol, e o usou para formar a abóboda do firmamento. Com essa vitória Marduk ganhou a supremacia entre os outros deuses.

6) Grécia

Os mitos gregos da criação são similares. Após o caos inicial, as deidades primordiais Gaia (deusa da terra) e Uranus (deus dos céus) emergem. Uma série de deuses-monstros, como Cronos, Typhon e Titans, nascem deles, mas Zeus (filho de Cronos) derrota esses demais deuses e estabelece a presente ordem mundial.

7) A Narrativa Bíblica

Em várias narrativas, os humanos aparecem como drones e marionetes, para agirem sob a autoridade, e para executarem o trabalho sujo dos deuses. Em outros mitos, os humanos eram escravos dessas divindades, cuja função primeira seria alimentar esses deuses através de seus sacrifícios.

A narrativa de Gênesis vem de encontro com as demais histórias, desafiando-as ao contrapor apresentando um Deus único e soberano, que apenas colocou os grandes astros no céu, e as criaturas nos oceanos e apresentou o homem como mordomo de sua criação. A narrativa criacionista de Gênesis se refere ao sol e a lua como “luminares”. Por que? Ao descrever esses corpos celestes dessa forma, a Bíblia os reduz ao estatus de meros objetos físicos que regem o tempo, apenas por emitir luz e refletí-la, marcando o calendário. Ao contrário, em outros relatos, em muitas linguagens antigas, o sol e a lua é transliterado como “deus-sol” a “deus-lua”.

É interessante ressaltar, a palavra hebraica traduzida para sol é “shemesh”, mas “Shamash”é também o nome mesopotâmio para o deus-sol. A palavra grega traduzida lua, “selena”, é também o nome próprio para a “deusa-lua”.

Porém, contrastando com o relato bíblico, os antigos registros, trazem as estrelas e constelações como seres divinos. Ao passo que a afirmação bíblia “e Ele também fez as estrelas” demonstra claramente que tais seres celestes são mera criação.

Gênesis rejeita o motivo pagão central de deificar a natureza. Além do mais, não procura elevar Yaweh acima de outros deuses. É impressionante ver que de Gn 1:1 a 2:3, no relato dos 7 dias de criação, Yaweh sequer é mencionado. O Criador é simplesmente referido como Elohim, um termo mais genérico.

Mesmo ao olharmos Gn 2 e 3 não mostra em momento algum, a necessidade de Yaweh suplantar outros deuses. Não há conquistas sobre outros deuses ou monstros, e nenhuma localização, cidade, tribo, é mencionada como o lugar onde Deus começou o processo da criação. Não há objetos de culto ou adoração que sejam mencionados.

Em resumo, o Deus de Gênesis 1 é simplesmente o Deus Universal.

8) Mitos do Dilúvio - Gilgamesh

As tradições dos povos antigos dividem em comum a inclusão de histórias sobre um dilúvio. Os registros mesopotâmios sempre entram em discussão por serem muito parecidos com os registros bíblicos, mais do que qualquer outro registro.
O registro mesopotâmio mais famoso é a versão babilônica, achado na biblioteca do rei assírio Ashurbanipal, do sétimo século antes do advento da natividade, sendo parte do extenso Epico de Gilgamesh.

Nesse épico, Gilgamesh procura por um homem chamado Utnapishtum (equivalente ao Noé bíblico), cuja história é recontada. Quando um dos mais importantes deuses, Enlil, se irrita com a cacofonia emanada do barulho dos humanos, ele decide inundar e destruir toda a humanidade em um dilúvio catastrófico. Enki, o deus das águas, revela o plano de Enlil ao mortal Utnapishtum, orientando-o a construir um enorme barco e acolher casais de animais. Orientado a não revelar esse plano a ninguém, ele é, posteriormente, comissionado a chamar sua mulher ao barco também. Por 7 dias de tormentas, esse barco é assodado pelas ondas que submergem a terra. Quando finalmente as águas baixam, o barco encalha no pico de um monte. Utnapishtum então, solta 3 aves, sendo que a última não retorna, aparentemente por ter achado abrigo em outro lugar que não a arca. Após esse episódio, o homem desembarca com sua mulher e oferecem sacrifícios aos deuses, que em troca dão ao casal vida eternal como recompensa por terem salvo a criação.

9) Mitos do Dilúvio – Sumérios e Acadianos

Um registro acadiano datado de aproximadamente 1600 a.C., reconta basicamente a mesma história encontrada no Epico Babilônico de Gilgamesh, com o diferencial que o personagem-Noé é nominado de Atra-hasis.

Uma versão suméria mais recente, conhecida como O Gênesis de Uridu, contém histórias sobre a criação e o desenvolvimento das primeiras cidades, bem como de registros sobre um grande diúvio, onde o herói chama-se Ziusudra.

10) O registro de Gênesis sobre o Dilúvio

O leitor bíblico irá imediatamente reconhecer as similaridades entre os registros mesopotâmicos e os encontrados em Gênesis. Entretanto existe uma diferença grande também.

De acordo com a Bíblia, Deus não estava simplesmente irritado com o barulho ou ruído produzido pelos humanos, mas estava extremamente contrariado com o pecado humano, como bem relata o capítulo 6:5-7 - E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Então arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração.

Tão pouco seu plano se baseava em uma atuação parelha a decisão de outra divindade, para a contrapor. Ele mesmo escolheu Noé para que por ele fosse preservada toda a raça humana.

Gênesis também aponta para um período mais longo de chuvas, e da tempestade que cobriu a terra. E muito menos concedeu a Noé imortalidade, e sim fez um pacto com ele.

Alguns estudiosos, ao datarem o registro bíblico de Gênesis posterior a esses outros registros, sugerem que os registros mesopotâmios talvez tenham servido de modelo para a composição da narrativa bíblica. Entretanto pesquisadores mais recentes tem afirmado que o registro bíblico não é apenas uma versão do mesopotâmico, mas sim um entre muitas versões de uma mesma história.

As diferenças podem ser atribuidas a revelação espedial que Deus mesmo deu aos escritores da Bíblia, incluindo ai o escritor de Gênesis, por intermédio do qual Ele também revelou o plano da salvação.

         As outras versões  provêm confirmações extra-bíblicas para a narrativa do dilúvio, mais até do que alguns sugerem, que esta seja um mito. 

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